FAÇA BIODANÇA!




BIODANÇA, MEMÓRIA E VIDA



19 de março de 2011

Discurso da Servidão Voluntária

Hoje, quero falar de um livro que eu acabei de ler e realmente me impressionou. Foi escrito em 1548, pelo francês Etienne de La Biétie e se chama Discurso da Servidão Voluntária. Ler este livro foi, a cada página, um susto pela forma e conteúdo que ele comunica. Sensibilizou-me profundamente e por isso decidi escrever aqui neste blog.
Etienne de La Biétie viveu apenas 32 anos. Amigo de Michel de Montaigne teve suas obras publicadas por este, vários anos após a sua morte. Quando escreveu este livro tinha apenas 17 anos! Não foi um revolucionário, mas com certeza este livro já serviu de leitura para povos que viveram situações político-sociais nas quais ele se enquadra: gestões de tirania e servidão.  
O autor defende radicalmente a liberdade. Entretanto, afirma que as pessoas temem a liberdade a tal ponto que podemos pensar que a liberdade não é natural na espécie humana, como é nos animais.
“Há uma coisa que os homens, não sei por que motivo, não têm sequer força para desejar. É a liberdade, bem tão grande e tão agradável que, quando se perde, todos os males sobrevêm, e sem ela todos os outros bens, corrompidos pela servidão, perdem inteiramente o gosto e sabor. Os homens só desdenham a liberdade, ao que parece, porque a teriam se a desejassem, como se se recusassem a fazer esta bela aquisição somente porque ela é fácil demais.”(p.35)
E ainda, não poderia deixar de citar o trecho que diz:
“E já que esta boa mãe deu a terra inteira como morada a todos nós, alojou-nos a todos na mesma casa, formou-nos a todos no mesmo molde a fim de que cada um pudesse olhar-se e por assim dizer reconhecer-se no outro; já que nos concedeu a todos o grande presente da voz e da palavra para melhor nos relacionarmos e confraternizarmos e para produzirmos, mediante a declaração comum e recíproca de nossos pensamentos, a comunhão de nossas vontades; já que procurou por todos os meios estreitar e firmar o vínculo de nossa aliança, de nossa sociedade; já que mostrou em todas as coisas que não nos queria somente unidos, mas como um único ser, como duvidar então que sejamos livres, porque somos todos companheiros? Não pode entrar no entendimento de ninguém que a natureza tenha posto alguém na servidão, porque ela nos reuniu a todos em companhia (p.38). “A liberdade é, portanto, natural” (p.39).
Entretanto, na evidência da submissão vivida pelos povos, Boétie indaga:
“Que desgraça é essa? Por que vício, e vício horrível, vemos um grande número de pessoas não só obedecer mas servir, não ser governadas mas tiranizadas, sem possuir bens, nem pais, nem filhos, nem sequer a própria vida?”. (p.31)
Mais impressionante ainda foi a frase abaixo:
“...aquele que vos oprime tem só dois olhos, duas mãos, um corpo, nem mais nem menos que o mais simples dos habitantes do número infindo de vossas cidades. O que ele tem a mais são os meios que lhe destes ...”(p. 36).
La Biétie diz que “não é possível combater nem derrubar o tirano. Ele se destrói sozinho...” (p.34). Nesta mesma página ele aborda a questão: segurança duvidosa de viver miseravelmente e a esperança incerta de viver como lhe agrada.
Certamente renunciamos a algumas coisas pela segurança e deixamos de organizar nossa vida da forma que queremos e creditamos. O medo nos abate? A preguiça, a baixa autoestima? O sentimento de não merecimento? Quem nos fez acreditar que não podemos, que não somos merecedores? Por que preferir a segurança muitas vezes infeliz à incerteza de viver como nos agrada?
Tendo em vista as opressões vividas pelos povos em diversas épocas, as guerras, a perversidade explícita e tendo como referência o mundo atual, somente 500 anos depois, o discurso de la Boétie é muito atual. Certamente estava chamando a atenção para a liberdade política e as opressões governamentais vividas desde a antiguidade. Entretanto, ele aborda a subjetividade das pessoas: o tirano é igual a você! Ele tem dois olhos, uma boca, dois braços... e o oprime com as armas que você coloca em suas mãos!
Refletindo sobre tudo isso vejo que há outros tipos de prisões que nem sentimos que existem: a preguiça de correr na direção dos sonhos, de esforçar para tanto, se fazer respeitar no meio social, no trabalho e nas relações, de lutar pela igualdade político-social entre outros.
A justiça hoje cuida de punir as manifestações de preconceito e de assédio moral que ainda continuam acontecendo nas empresas, nas relações patrões e empregados e nas relações sociais. Infelizmente, e independente disso, elas continuam acontecendo. Ainda não somos capazes de nos posicionar efetivamente contra tais situações. Obviamente, alguns já encontraram caminhos diferenciados geradores de paz e tranquilidade, mas, certamente a maioria vive na submissão fazendo o que não quer, da forma que não deseja, sendo destratado e recebendo retorno insuficiente. As mulheres ainda continuam sendo maltratadas e pouco reconhecidas, mesmo fazendo um excelente trabalho e, pior, algumas continuam sendo agredidas, literalmente, dentro de sua própria casa e não encontram a porta de saída!
O trabalho é uma forma de convívio social onde todos lutam por um objetivo, uma função, um “produto”. Pode e deve ser satisfatório, respeitoso, se todos são colaboradores. O trabalho feito com entusiasmo, com reconhecimento, com autonomia, tem muito mais chance de trazer à empresa bons resultados, e às pessoas, o sentimento de realização. Há um livro que se chama: A empresa no tempo do amor, escrito por Liliana Viotti e o Gerson Barros de Carvalho. Falar de amor na empresa é possível? De que tipo de amor estão falando? É uma utopia? Os autores vêm propor uma mudança nas organizações tendo como metodologia as interações por meio da Biodanza, uma vez que esta se apoia no princípio biocêntrico que diz que a vida está no centro de tudo. Esta ideia se contrapõe com o princípio antropocêntrico (que hoje vigora em nossa cultura!) que instala o homem no centro do universo em detrimento das condições ambientais, da vida humana e animal. A biodanza propõe a interação completa em três níveis: consigo, com o outro e com o meio.
Assim sendo, e voltando ao nosso principal tema, a gestão com respeito e colaboração trará um resultado muito mais satisfatório a todos. Rolando Toro, fundador da Biodanza, disse que temos que ser muito mais ousados e desejar a felicidade!
Buscar a felicidade, desfrutar da liberdade que nas palavras de Etienne já está aí para nós, pensar com autonomia, refletir sobre as múltiplas possibilidades, acreditar, inovar, dizer não, mudar o rumo da vida, ter coragem de ir além, enfrentar as consequências desagradáveis que muitas vezes surgem no caminho de seu desejo e manter firme sua decisão de ser livre e realizar seus sonhos com certeza é o caminho mais assertivo.  É o caminho da vida.
Obrigada La Boétie por ter sido tão brilhante em seus poucos 17 anos!
La Boétie, Etienne de. (1530 – 1563) Discursos da Servidão Voluntária. Coleção obra prima de cada autor. São Paulo: Editora Martin Claret, 2009. Tradução de Casemiro Linarth.
Viotti, Liliana; Carvalho, Gerson. A Empresa no tempo do amor. Belo Horizonte: editora Fênix, 1997.

8 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher

Mãetologia
Tatiana Pimentel Barbosa

Todas as aventuras de Ulisses,
Toda a sabedoria de Édipo
Diante da Esfinge,
Toda força nos ombros de Hércules
Para separar os continentes,
Toda a coragem de Teseu
Para enfrentar o Minotauro
Nada seriam se não houvesse um propósito.
Se não houvesse Afrodite...
Ah, se não houvesse Afrodite
No meio disso tudo!
Não haveria nada
Porque todo amor,
Todo amor,
Já dizia Quintana,
É a corda do relógio do mundo.
É verdade!
Antes que prometeu
Desse vida aos bonecos de Zeus,
Antes que Hera
Protegesse a fertilidade do mundo,
A grande mãe,
Já era em Creta,
A Deusa maior.
Mensagem do blog:


Às mulheres, por sua sublime sublime capacidade de gerar e acolher a vida, parabéns por este dia! 

Que possamos estar sempre prontas a criar opções de vida quando as situações não forem favoraveis. Que tenhamos resiliência, que tenhamos auto estima e discernimento para encontrar sempre o melhor caminho e nos acolhermos profundamente, para que nossa capacidade criativa esteja sempre em ativa e amorosa disposição.  

3 de março de 2011

Mário Quintana

Canção do dia de sempre 

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...
Mario Quintana



É lindo este poema do Quintana como tudo nele, tudo o que ele criou! E esta ideia da vida sem ansiedade é muito bacana! Só não sei se a gente consegue... Mas ele mesmo diz que o rio que passa é sempre outro... outras águas... outra força... temperaturas diferentes. E ainda o conforto: tudo vai recomeçar! Nessas mão distraidas (ou atraídas) a vida atira a rosa dos sonhos...