FAÇA BIODANÇA!




BIODANÇA, MEMÓRIA E VIDA



6 de abril de 2011

Gratidão

Na semana passada nosso grupo Biodança, Memória e Vida, dançou e dialogou sobre o tema da Gratidão. Este grupo desenvolve atividades que auxiliam a memória e a integração social, buscando sentido para a vida diária. Toda semana iniciamos a aula com um texto ou um diálogo sobre um tema escolhido de acordo com a demanda do grupo. Na semana passada foi lindo trabalhar com o tema da gratidão! Na semana anterior havíamos trabalhado a leveza!. Gratidão é alegria, é vida, é fonte de saúde e vitalidade. Ter gratidão é abrir espaço para o novo. Implica em aceitar, perdoar e renovar a si próprio e às relações. É deixar que a luz divina entre e acolha nosso coração. Deixar que as portas e janelas abram-se e seguir em frente abraçando a vida.
Ao falar em gratidão é impossível deixar de trazer alguns fragmentos do livro de André Comte Sponville, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes e junto com ele minha gratidão pela vida! Com base nas leituras que fiz deste livro e nos sentimentos gerados à partir de nossa última aula vai aqui uma reflexão. Espero que gostem!
Sponville nos diz que a gratidão é uma virtude agradável, pois todos nós preferimos muito mais ganhar um presente a um destrato. Mesmo é uma virtude complexa, pois com ela vem o mérito de termos vencido um obstáculo. A virtude está ligada à generosidade e esta se opõe e supera o egoísmo. A gratidão é diferente da generosidade, pois não dá nem recebe. Assim sendo, não há perda na gratidão.

No entanto, ele pergunta: se a gratidão nos falta com tanta frequência, não será, de novo, mais por incapacidade de dar do que de receber, mais por egoísmo do que por insensibilidade? (p.103)

Sponville afirma que o egoísta é ingrato, pois ele se regozija com o que recebe e não com o que ele dá. A gratidão é generosa, pois é um eco de alegria e dá a si mesma! (p.104)

 A gratidão é dom, a gratidão é partilha, a gratidão é amor: é uma alegria que acompanha a ideia de sua causa, como diria Spinoza, quando essa causa é a generosidade do outro, ou sua coragem, ou seu amor. Alegria retribuída: amor retribuído. (p.104)
O autor diferencia gratidão da ingratidão, pois a gratidão sabe ver no outro a causa de sua alegria. Há humildade na gratidão (p.104) porque ela sabe que não é sua própria causa, nem seu próprio princípio (p104).

Nós somos partes do planeta, do cosmo. O que acontece o planeta se reflete m nós. O que fazemos com o nosso ambiente próximo se amplia em grande escala. O autor confirma nossa relação de interdependência com o cosmos e nos convida a agradecer pelas menores coisas, pelo simples fato de existir. 

Como não agradecer ao sol por existir? À vida, às flores, aos passarinhos? Nenhuma alegria seria possível para mim sem o resto do universo (pois, sem o resto do universo, eu não existiria). É nisso que toda alegria, mesmo puramente interior ou reflexiva (a acquiescentia in se ipso de Spinoza), tem uma causa externa, que é o universo, Deus ou a natureza: que é tudo. Ninguém é causa de si, nem, portanto (em última instância), de sua alegria. Toda série de causas, e há uma infinidade delas, é infinita: tudo se amarra, e nos amarra, e nos atravessa. Todo amor, levado a seu limite, deveria, pois, tudo amar: todo amor deveria ser amor a tudo (quanto mais amamos as coisas singulares, poderia dizer Spinoza, mais amamos a Deus).(p. 104)
Sobre a relação com o passado ele diz: a gratidão (charis) é essa alegria da memória, esse amor do passado – não o sofrimento do que não é mais... (107) Assim, a gratidão não anula o luto, mas lida com ele de forma diferente.

Faço um parêntese para comentar um dos sonhos de Kurosawa (Filme Dreams) chamado Povoado dos Moinhos. Há a cena de um enterro e uma procissão alegre, cheia de guizos, música e flores. O viajante pergunta ao senhor idoso se aquilo é uma festa. Ele explica que é um enterro e que quando alguém morre  eles agradecem por aquela pessoa ter vivido ali, ter sido quem foi e por sua contribuição à vida de todos. É a gratidão pelo que foi, tão difícil muitas vezes para nós, que queremos prender em nós aquilo que na realidade precisa se desprender.

Fato muito comum em nossa cultura é o agradecimento para evitar problemas, para ganhar favores entre outros, enfim, a bajulação!  Sponville afirma que gratidão não é complacência não é corrupção e reflete sobre a possibilidade de o próprio reconhecimento ser servilidade disfarçada, egoísmo disfarçado, esperança  disfarçada!  

Ao final do texto, autor  define a gratidão como uma virtude de fato pois é  originária do amor.   “A amizade conduz sua dança ao redor do mundo”, dizia Epicuro, “convidando todos nós a despertar para dar graças.” Obrigado por existir, dizem um ao outro, e ao mundo, e ao universo. Essa gratidão é de fato uma virtude, pois é a felicidade de amar, e a única. (p.108)
SPONVILLE, André Comte. Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1999.



2 comentários:

  1. como foi importante para mim está aula,pois atravéz desta pode ver como as pessoas se tornam grandiosas num simples olhar ou gesto para com os outros e o mundo,eu pude ver que aprender que a gratidão é algo vindo do coração sem algo em troca ou divida alguma ,onde todos se tornam especiais somente pelo fato de existir,e é por esta que me sobreveio a alegria de viver meias circunstâncias,onde foi resgatado a minha personalidade e carater ,de está me recuperando do cansaço fisico e mental, agradeço pois a minha vida se tornou um quebra cabeça ,e este grupo foi peças importantes para que eu me encontrasse,sobretudo sou grata as pessoas especiais que me abraçaram sem mesmo me conhecer e me acolheram de uma forma incondicional,e tem me ajudado em todo tempo a ver que em meio as lutas nós temos vários motivos para se alegrar,dançar,e até mesmo chorar em meio as emoções.a essas pessoas :eliana,kátia,gisele,samira e ao grupo memoria e vida meus agradecimentos.

    ResponderExcluir